Não encontro um motivo que me faça querer ficar, nem mesmo uma boa razão para partir. É pior ainda, ter a incapacidade de discernir entre o que é estar bem e não estar. Simplesmente… Estou? Não possuo a expressão alegre da felicidade, nem o rosto marcado das azáfamas da vida, sou simplesmente eu, imóvel, tão limitado quanto uma larva se deve sentir ao enlear-se no casulo que ela própria tece, porém com a certeza de que um dia, sairá dali, a mais livre e colorida das borboletas.
Gosto das palavras na poesia, mas nos afectos prefiro o silêncio da entrega, aquele que nada diz, de quem vem e se senta sobre a nossa sombra, naquela varanda de rochas em frente ao mar onde todos os sentidos o engolem, apenas respira e pulsa; e ao segurar delicadamente a nossa mão, devolve-nos toda a calma, antes roubada e dispersa pelos mesmos medos que nos assombram e fizeram procurar aquele refúgio. Não fiz uma só pergunta, porque não são as respostas capazes de trazer a pele arrepiada, como um beijo molhado que nos atravessa o dorso, não são as respostas que nos fazem crer que aquele sorriso ao amanhecer, é o sol por onde todos os planetas se regem.