O primeiro comboio


    Sereno, inconformado, de olhar cansado de quem não quer nem precisa ver mais que um palmo à frente do nariz, um homem arrasta-se na madrugada, direito à estação de comboios. Vai entrar na carruagem do costume, à mesma hora de sempre e tem como destino uma obrigação que não entende, vai gastar metade do seu dia a fazer aquilo que sempre faz e já não suporta.

   Inundado em pensamentos que vão despertando com o embalar da carruagem, tenta dormir para esquecer, para fugir de si mesmo e das dúvidas que o atormentam, mas no ar libertam-se odores intensos de perfumes que ao se misturarem com cheiros de corpos já suados pela manhã, o impedem e tornam tudo ainda mais confuso. Levanta as pálpebras lentamente e, o seu olhar revelando uma incerteza profunda, cruza-se com olhares que exprimem exactamente a mesma angústia, e com outros tantos olhares parados, tão ausentes que já nem exprimem nem questionam absolutamente nada. 

  Tenta livrar-se destes fantasmas sufocantes e contrariar a mente com memórias felizes chegando a mentir a si próprio, dizendo que um dia será rico e que todos aqueles pesadelos farão parte de um passado esquecido, mas no fundo sabe que a verdadeira riqueza vai sendo destruída, dia após dia, viagem após viagem, vai sendo esmagada em cada sorriso que não dá, em cada palavra de amor que não solta, enquanto o Sol nasce e se põe sem que ele O contemple e tudo o que um dia conseguirá, é morrer, morrer como toda a gente, não levando daqui, nada mais senão o pesado e vazio fracasso de uma vida em vão.

  A vida é mais que um emprego, que uma carreira, que uma prestação de uma casa, que uma obrigação ou uma apatia voluntária! A vida é paz interior, harmonia, é liberdade, fraternidade, a vida é amor, família…

9 comentários:

  1. e uma grande verdade , dinheiro nao e tudo , nem nunca foi ,mas mesmo tendo d trb e possivel manter a paz a familia a liberdade, as x sao necessarias mudancas para q isso seja possivel! nao deixar q o trb diario esmague o bom da vida!

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  2. Já que a sociedade nos obriga mesmo a cumprir obrigações, então que o façamos, mas nunca deixando de olhar as verdadeiras belezas da vida, que estão por todo o lado, bem perto de nós e por vezes tão despercebidas.O pior é quando nos deixamos envolver por um sono hipnotizador e nos tornamos mecânicos. É que as máquinas não têm sentimentos, nem emoções. Vivem de forma fria e exclusivamente para a missão para a qual foram programadas.

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  3. e uma grande verdade , as maquinas nao teem sentimentos nem emocoes, e cada x mais alguns seres humanos se tornam maquinas , por acomodacao, por descuido, por preguica.....temos q aceitar de alguma forma o q a sociedade nos impoe, mas ha q enfrentar , aceitar, levar o melhor possivel, e o q nos resta dp de cumprir com as obrigacoes, q seja vivido com intensidade!!! sem perder tempo com com disparates,ninharias!!! ha de facto muita coisa bela ha nossa volta!!!

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  4. A apatia de que falas é corrosiva, destruidora. Cabe a cada um de nós a resistência, a força e a coragem para continuar a lutar, para continuar a acreditar, para não deixar morrer a esperança. Essa deve ser uma luta constante!
    Nem todos os dias o Sol brilha no Céu, mas mesmo por detrás das nuvens... ele está sempre lá!

    Ao mesmo tempo que escrevo, tento convencer-me também, as palavras têm força :)

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  5. Os pensamentos têm todo o poder, e claro, as palavras como sua forma de expressão.

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  6. É fácil perder o sentido e a noção do que realmente interessa quando todas as manhãs uma multidão nos comprime num qualquer transporte público que já conhecemos de cor. Mas o que realmente interessa e nos torna mais ricos ou mais pobres, mais felizes ou mais tristes, mais activos ou mais apáticos, reside no nosso âmago: o nosso espírito inconformado que aceita o que lhe é imposto mas aproveita cada momento para se manter à tona de si mesmo! Se o ouvirmos a nossa vida não será um vazio fracasso, mas rica e significativa.
    Obrigada pelo cantinho de reflexão que aqui encontrei! :)

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  7. Cláudio, estive aqui atentamente a ler todos os teus textos mas este foi o que me chamou mais a atenção. Talvez porque saiba exactamente o que pretendes dizer com ele. É demasiado fácil perder noções e sensações de paz interior, harmonia, felicidade, amor... entre tantos outros quando somos sugados para dentro desta vida que nos consome diariamente com os seus problemas, por vezes ou muitas delas esquecemos o mais importante... ser feliz e fazer quem está ao nosso alcance feliz também.
    Gostei imenso do que li, aqui também há muito, muito talento! E segui a tua sugestão, agradeço-te isso e todos os comentários que juntamente com a Dina tens feito ao meu blogue.

    Continua sempre a escrever!

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  8. Moon Dreamer:
    Eu é que agradeço a visita aqui a este meu cantinho. No texto, foi precisamente isso que quis focar, eu também continuo a acreditar que a felicidade sai de dentro para fora e não o contrário, embora os movimentos exteriores por vezes sejam tão complicados, que nos tentam atrofiar. Quem sabe, não serão testes à nossa capacidade e resistência?!!!(ehehheeh).

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  9. Olá Filipa, fiquei contente com a surpresa da tua visita, ainda mais por teres disponibilizado algum do teu tempo a ler as coisas que escrevo, obrigado mesmo.
    Ainda estava na esperança de ver um texto teu na Fábrica de Histórias, mas não importa, sei que uma semana destas, quando menos esperar, ele surge e de surpresa!

    Tudo de bom para ti e … Boa escrita!

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