Sentei-me numa pedra na beira do rio, olhando
a água que passava diante de mim a uma velocidade
imensa. Para onde iria tão veloz na força daquela
corrente decidida? Alguns metros à frente havia uma
forma rochosa que despertou a minha atenção; dis-
tava mais ou menos a mesma distância das duas
margens e uma gaivota acabara de poisar no seu to-
po que emergia delicadamente da água que corria,
fazendo-me lembrar uma ilha. Uma ilha tão pequena
que talvez nela só coubesse aquela única gaivota,
mas ainda assim era um pedaço de matéria sólida,
rodeado de água por todos os lados e que se man-
tinha firme à força da corrente. Até quando? Então a
gaivota levantou voo com uma facilidade particular,
planou como um pensamento solto, sem direcção
certa e nenhuma pressa de chegar. Com ela levou o
meu olhar e um pedaço de inveja inocente de quem
quer fugir mas não tem asas. Depois, tal como um
pensamento, voltou ao ponto de partida e ficou ali
apenas, tão inerte como a base onde aterrara.
Assim me sinto por vezes. Como uma ilha no meio
do rio, uma ilha de pensamentos livres que levantam
voo e regressam, vezes sem conta… Uma pedra tão
dura quanto frágil, que recusa ir na corrente fútil de
ideias que não entende e tradições que convergem
sempre na mesma direcção e se dirigem exclusi-
vamente a um único lugar, vazio, onde as aves vivem
em gaiolas e os sentimentos não cabem. Faz-me
lembrar um rebanho de ovelhas que corre
desenfreadamente sem saber a razão, apenas
porque uma se assustou. A corrente não me move,
assim como eu não a consigo deter.
Olá Cláudio!
ResponderExcluirFeliz por te ter por aqui de novo, e se me permites uma colherada, em vez de te sentires a ilha no meio do rio, pensa-te a gaivota em cima dessa ilha e:
"Há sempre uma razão para viver.
Podemos elevar-nos acima da nossa ignorância, podemos olhar o nosso reflexo como o de criaturas feitas de perfeição, inteligência e talento.
Podemos ser livres!
Podemos aprender a voar!"
(Fernão Capelo Gaivota)
Voa, Claúdio... és livre...
Um beijinho
É mais ou menos... tipo uma simbiose entre a rocha e a gaivota ;)A gaivota é o meu pensamento, onde de facto consigo voar e ser livre. A rocha é a minha parte material, muito mais terrena, mas que mesmo assim faz um esforço enorme para não ser levada na corrente. Não vai na corrente, não só porque se agarra e se esforça, mas também porque existe uma gaivota que voa alto(ainda) e o mérito do seu voo permite a abstracção e de certa forma uma paz interior.
ResponderExcluirMas como alguém disse :)"a culpa é do sistema"!
Lindíssima e profunda reflexão Cláudio!
ResponderExcluirHá ainda muita gente que não se deixa levar nas correntes momentâneas de tantas futilidades que hoje parecem"atravancar" o mundo. Continuar a ser firmes no que somos, mas ao mesmo tempo achar a leveza da gaivota na sua liberdade...
Um abraço,amigo.
Olá Ivete. Ainda há sim muita gente que não se deixa hipnotizar pelo som da "flauta encantada",ou pelo menos quero acreditar que sim, mas tenho tido alguma dificuldade em encontrar no meu dia-a-dia, em carne e osso pessoas assim. Eu bem tento convencer algumas :) com a minha filosofia de vida. Têm-me como um bom exemplo, admiram-me, mas no fundo devem julgar é que sou meio louco.
ResponderExcluirObrigado por me ler e sobretudo por me entender ;)
e tu claudio,custumas ouvir ,e encantar ,pela flauta encantada?
ResponderExcluirSó o facto de sermos livre no pensamento já é motivo para se ser feliz...há quem não o seja. E sê como a gaivota, livre e sempre acompanhada pelo teu olhar. Bonito o teu texto.
ResponderExcluirAbraço
Não, eu não me deixo levar pelo som da flauta. Pelo menos faço um esforço para isso e criei as minhas regras, que são apenas de carácter moral. Tudo o resto é permitido, desde que me sinta bem e não invada o espaço de ninguém.
ResponderExcluirOlá Ónix! De facto existem pessoas que nem no pensamento conseguem ser livres, mas a sua vida deve ser dura demais. Era aí precisamente, no pensamento, que devíamos conseguir atingir a liberdade máxima, onde não deveria haver limite capaz de impedir o nosso voo.
ResponderExcluirUm beijinho
Olá, Cláudio. Desculpe-me aquela resposta maluca de sexta feira, mas eu tenho destas coisas... o centro estava mesmo a encerrar e eu respondi, instintivamente, a primeira coisa que me veio à alma...
ResponderExcluirDesta vez abri uma excepção e li a resposta que deu à Natacha. Gostei muito. Do texto e dessa resposta em particular.
Abraço!
«pekenasutopias», nada a desculpar :)pelo contrário! Fiquei com um sorriso no rosto e é tão bom sorrir, não é?
ResponderExcluirAinda bem que gostou. Ao escrever textos ou coisas instintivas, fico a pensar que ninguém vai entender e por vezes nem sequer eu gosto. Mas surge alguém, diz que aprecia e lá fico outra vez de sorriso no rosto. Enfim, estou sempre a sorrir, devo ser mesmo tolo ;)
Um abraço e obrigado. Muito obrigado!
Grande mensagem, Cláudio.. há que ser genuíno..
ResponderExcluirE a liberdade de pensamento, essa, ninguém nos pode tirar.. e lá, nos lugares onde chegam os pensamentos conseguimos, finalmente, voar..
Maravilhoso o teu texto :)
…porque os nossos ideais e valores morais são o mais importante. Podem-nos privar de tudo, mas nos nossos pensamentos seremos sempre livres. Um grande beijinho Ametista.
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