Uma noite de Carnaval, em Veneza

                                      ( Lembrando o Carnaval e o dia internacional da Mulher…)





                         Hoje e visto ser Carnaval, reponho a máscara. Não por querer esconder o 

                          que sinto, mas porque me apetece fantasiar. Fazer de conta! Quem sabe,

                            induzir o paladar meio doce, meio acre de um encanto misterioso, na

                             brisa de uma valsa que enche o salão.        Shall we dance?

   …Ela estendeu-lhe a mão e levantou-se de imediato, flectiu as pernas de modo a fazer uma ligeira vénia sem nunca deixar de lhe olhar nos olhos. Não trocando qualquer palavra, desfilaram até ao centro do salão, tão ligeiramente que os pés mal tocaram os enormes mosaicos pretos e brancos que compunham o chão. Por cima, no tecto, estava um enorme candelabro de cristal que reflectia uma luz ofuscante, capaz de iluminar toda a festa. As roupas estavam ainda mais coloridas e os olhares das pessoas libertavam um brilho irrequieto por detrás das máscaras, eram o que sobrava de um lado Humano, naqueles rostos sem expressão. Ouviam-se risadas que não se podiam ver, vozes abafadas, e tudo o resto era um deslumbrante espectáculo de mímica que a elegância e o «glamour» completavam. Fez-se silêncio e a música recomeçou, tão perfeita quanto uma valsa pode ser.



  Relato do momento na voz dela:

  Quando vi aquele homem aproximar-se, tive a certeza que se dirigia a mim. Era alto, elegante, tinha confiança nos seus gestos. Caminhou, com a vaidade de quem consegue tudo o que quer, até o local onde eu estava sentada e com ousadia convidou-me para dançar com um aceno de cabeça. Aconteceu tão rápido que não pude pensar muito e aceitei. Levantei-me dum pulo e sem olhar para as pessoas que me acompanhavam, dei-lhe a mão. Arrastou-me então com firmeza até ao centro do salão, sem proferir uma palavra. O meu coração parecia um comboio que ia descarrilar a qualquer instante, estava completamente rendida ao seu encanto e à maneira como me fazia querer ser sua. O mistério percorria os meus sentidos e estimulava o meu desejo por aquele pecado que tinha os olhos doces que sorriam e o rosto escondido numa máscara com expressão séria. Quando a música começou, já eu aflorava a uma distância considerável do solo, entre a realidade e o sonho, onde as cores se fundem e as imagens passam em câmara lenta. Movia-se na perfeição, o cenário fantástico que envolvia a nossa dança. Senti as suas mãos segurarem-me com posse, permitindo apenas a liberdade que o meu corpo necessitava para acompanhar os seus passos, a valsa fluía com magia como se tivesse sido ensaiada ao mínimo pormenor. Do seu corpo exalava um perfume hipnotizante que me fazia ambicionar a eternidade daquele momento. Quando a música parou, olhámo-nos fixamente por um tempo que não consigo definir, como se as nossas bocas se beijassem e as mãos rasgassem vigorosamente as roupas que vestíamos. Depois, o homem que deu sentido à minha noite de Carnaval, esfumou-se na multidão.

  
  Relato do momento na voz dele:

  Entrei no salão decidido que aquela mulher seria minha. Por uma dança que fosse, mas minha. Tinha chegado a altura de passar à prática, o plano que me manteve acordado noites a fio, alimentando os sonhos de quem sofre de um amor impossível, de quem deseja e sabe que não pode ter. Olhei ao redor e avistei-a de imediato por entre a multidão, estava sentada com ar de quem anseia que as horas voem para poder ir para casa descansar. Sabia que era ela, não tive dúvidas, conheço-a como ninguém, a sua pose, o seu jeito tímido, as curvas perfeitas do seu corpo, as mesmas para onde os meus pensamentos fogem diariamente e flutuam. Que tinha eu a perder? Nada! Ainda por cima, estava irreconhecível e ninguém me esperava ali, afinal era só o seu motorista. Respirei fundo e dirigi-me à mesa. Tudo o que quis foi uns minutos de glória, ter nos braços a mulher que amo, ao sabor envolvente de uma valsa, tocar a sua pele, sentir o seu respirar no meu peito. Hoje é Carnaval e o sonho é possível, mas amanhã tudo volta ao normal, quando abrir a porta do carro e lhe perguntar: «para onde deseja ir»?





16 comentários:

  1. Este é, garantidamente, o único Carnaval que me encanta... o de Veneza.
    Parabéns pela escolha, parabéns pelo relato na voz dela, sinal de uma enorme sensibilidade em ti.

    É muito bom colocar uma máscara de vez em quando e fantasiar, muito bom mesmo!

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  2. Olá Natacha, minha leitora assídua! De facto, para mim, este é também o Carnaval que mais me seduz. Cheio de mistério e encanto. A sua origem relata que nestes dias, todas as pessoas conviviam, não existiam distinções sociais e a criadagem convivia anónima com o senhorio sem qualquer problema. Foi nisso que peguei para criar esta história. Obrigado.

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  3. Ao som de uma valsa, num Carnaval de magia, uma paixão adquire o seu mais mágico significado. O seu mais doce encanto.

    E quem ficou apaixonada pela tua história fui eu!!! :)

    Parece que com ou sem máscara, o teu talento para a escrita é invariável!!!

    :)

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  4. Em primeiro lugar tenho que te dizer que gostei imenso do teu blog! Achei realmente original fazeres as duas "vozes", mostrar os dois lados.. A perspectiva da mulher e do homem. Muito bom.

    E sim, realmente é verdade. É durante a noite que milhares de ideias nos passam pela cabeça e nos inspiram! Já andava há algum tempo a pensar em escrever um livro mas ontem foi a noite. :P Não é nada fácil escrever um livro mas, tal como tu disseste o desafio é enorme e eu não sou de desistir. Por outro lado, acho que me vai dar um prazer enorme. :) É uma aventura cativante.

    Obrigada pelo teu comentário. *

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  5. Muito obrigada, Cláudio (:
    Quando tiver tempo leio o teu blog, parece-me estar muito bom!
    Beijinhos (estou a seguir!)

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  6. Olá Moon Dreamer! Eu sabia que ias entender a magia de um Carnaval de máscaras ao som de uma valsa;) Obrigado pela tua visita e pela tua opinião que já tem por hábito deixar-me de espírito para cima. Muito obrigado.

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  7. Olá Marcia, obrigado pela visita desde já.
    Há pelo menos, sempre, dois pontos de vista :) Já que era Carnaval, tentei fantasiar e brincar um pouco com a forma de escrever e saiu assim.
    A noite tem dessas coisas e parece que a ti te deu a iniciativa que necessitavas para arrancar com algo que já tinhas em mente. Não será um desafio fácil, mas de outra forma também não teria graça, não é?!!! Tenho a certeza que vais superá-lo ;)

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  8. Olá Francisca! Obrigado pela visita, volta sempre!

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  9. Não há nada como um bom incentivo para nos ajudar a persistir em algo que é já uma paixão, como é escrever!
    Como eu te entendo! :)

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  10. Eh pá, qu'este Ambrósio tem muito que se lhe diga!
    Será que ela vai conseguir reconhecer o olhar dele quando o vir no retrovisor?!? Espero bem que sim! Fico a aguardar o relato "ardente" na limousine! ;-)

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  11. Só o teu humor Sónia, para me fazer soltar uma gargalhada agora!Não me dês ideias que escrevo mesmo :)

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  12. "O que faz falta é animar a malta!!!"

    ESCREVE!!! ;-D

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  13. As amigas são aquelas que nos fazem mais falta, mas tempos são tempos...

    Texto lindo

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  14. Sem dúvida, Amizade é o Amor na sua forma mais pura. Obrigado Susana, volta sempre.

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