No Mundo da Lua (palavras para uma imagem)



   Edna senta-se no parapeito da janela do quarto e observa a Lua por instantes. Pertence ali. A sua tenra idade protege-a e a imaginação confere-lhe asas que lhe permitem voar longe, onde existe um universo de gente como ela, e tudo é possível da forma mais simples, como as ideias que vagueiam no pensamento lógico de uma criança. Para lá daquela janela, a majestosa Lua decora a noite, e as copas das árvores mais altas arranham suavemente as nuvens que passam, impelidas por uma brisa que sabemos que existe ainda que não a possamos tocar. Mas para lá das nuvens, só olhos puros alcançam. Não há perigo… Não existe traição. O medo é o peso na consciência de quem quis ser adulto a troco da ingenuidade, mas ali é um enorme recreio onde todos são criança e a inocência é o indispensável passaporte de acesso, não se vende, nem se troca. Há uma clareira, sem chão, ladeada de árvores coloridas que flutuam, subindo e descendo enquanto harmoniosamente giram em círculo, como num carrossel animado de panelas loucas, cavalos e girafas sorridentes. Meninos e meninas vão chegando, vindos cada um da sua fantasia e dançam toda a noite, ao som de uma música estranha que só as crianças entendem. O corpo, sem peso consente uma liberdade de gestos, mas sobretudo de espírito. Um pouco antes de nascer o dia, Edna, ainda mais pura e leve, regressa ao miradouro das suas fantasias, com um ar feliz joga-se sobre as almofadas vermelhas e suspira fundo. Despede-se da Lua com um sorriso  e funde-se na sua luz.
   Alguns minutos depois, o Sol invade o quarto, reflectindo os seus primeiros raios. Na cama, há um lençol branco que se agita e sob ele, um corpo curvilíneo espreguiça-se. Um movimento brusco, ainda pouco coordenado afasta o lençol, levanta-se uma mulher esbelta e, revelando a sua completa nudez de uma forma cândida, dirige-se à janela. Recolhe as almofadas do parapeito e de olhos ainda meio fechados, grita, «obrigado Edna»!
   Edna não existe. É apenas um sonho bom, em feição de menina. Um sonho que chega todas as noites com uma coragem decidida a libertar os receios daquela mulher enquanto dorme. Mostra-lhe o poder da fantasia e como é mais puro o mundo, visto pelos olhos de uma criança.




                                                                                                           escrito para: Fábrica de Histórias



16 comentários:

  1. Que bom que esta semana participas! (sorrisos)

    Um dia... o "esforço" de Edna não será em vão, e a mulher que se alimenta da sua força durante a noite perceberá, não sem dor, de que só não conseguimos aquilo que não queremos, o que é preciso é queremos sempre o que nos faz bem, ainda que por vezes tenhamos de nos valer de um saudável egoísmo.

    Um beijinho, Cláudio, e boa escrita!

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  2. Quero uma Edna só para mim... Bem a procuro em cada noite que passa. Mas passo sem a encontrar.
    Resta-me a Lua...

    Boa semana sonhadora.

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  3. Nós queremos sempre o que nos faz bem, mas por vezes não é possível!
    Um beijinho e boa escrita para ti também Natacha.

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  6. Olá Moon Dreamer. A Edna se calhar aparece por aí, tu é que tens um sono profundo, não dás conta! Estou a brincar. Resta-te a Lua, fico descansado, tem o poder de muitas «Ednas».
    Boa semana para ti também.Bons sonhos e boa escrita.

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  7. O que houve Cláudio? Falei algo que não devia no comentário?

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  8. Olá Ivete,desculpa-me, removi o teu comentário sem querer, mas li-o. Ia apagar uma resposta minha porque reparei que tinha um erro e acabei por apagar o teu.Mil desculpas. Obrigado pela tua simpatia, e o teu elogio foi do mais puro que alguém pode receber. Faço questão, embora em esforço por vezes, de nunca deixar morrer a criança que há em mim.
    Um grande abraço.

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  9. Não Ivete, foi mesmo sem querer. Desculpa por isso. Tentei retroceder e recolocar o comentário, mas acho que já não é possível! Ops! :) Desculpa mesmo.

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  10. He,he... tá desculpadíssimo! Só fiquei preocupada quando percebi a remoção.
    Um grande abraço

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  11. :)obrigado Ivete. Um forte abraço para esse lado do Atlântico!

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  12. Claro, Cláudio! Tens toda a razão!
    Mas quando não é possível, então assuma-se de que não é possível para que se possa seguir em frente de cabeça erguida.
    Tenho a certeza que aquela mulher ainda vai tirar bom proveito da coragem que a Edna lhe deposita todas as noites.

    Um beijinho também para ti...

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  13. Acho que tenho uma Edna aqui dentro... sabes, queria voltar a ser criança e tenho medo de envelhecer.
    Abraço

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  14. Quem dera ser criança até sempre.. ser eternamente Edna..
    Ternurenta a tua história.. há magia nas palavras que, tão docemente, nos deixas para que com elas consigamos dançar.. voar..
    Obrigada, Cláudio..

    Um grande beijinho :)

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  15. Pois é Ónix, se tens uma Edna dentro de ti, então não te preocupes com o envelhecimento(infelizmente inevitável). Eu sei que é fácil falar, mas se não podemos fazer nada contra isso, é melhor irmos aceitando mesmo. Sim, que eu também sofro desse medo. :)

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  16. Pela tua forma de escrever(sentir), tenho certeza que viverá sempre uma criança dentro de ti ;)
    A magia não está nas minhas palavras, mas sim na capacidade que algumas pessoas têm, em conseguir voar através delas.Obrigado eu, pelo carinho.
    Um beijinho Ametista.

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