Crónica ou devaneio?(Trocar a cidade pelo campo)


 Quando, nesta cidade, olho à volta, e vejo a confusão instalada, os rostos confusos e perturbados das pessoas que passam, carregando pesos enormes de responsabilidade nas costas, pergunto-me como tanta gente teve a ousadia de um dia deixar o seu pequeno meio, ou aldeia, ou zona rural se quiserem chamar, - onde todos sabemos que o tempo passa devagar e a vida é mais saudável em todos os sentidos - para rumarem à cidade azafamada de relógios loucos e apressados, onde ainda por cima existe um «vírus» chamado stress, que espreita a cada esquina, esperando a sua próxima vítima. Pois decidi que quero fazer precisamente o contrário. Cresci e vivi sempre na cidade mas agora quero ir viver para o campo, mas sei que entretanto irá persistir a dúvida se serei ou não capaz, atendendo ao ditado que diz, «galinha do campo não quer capoeira», será fácil presumir que galinha de capoeira talvez não aguente a calma e a liberdade do campo. Só experimentando, saberei e como tal elaborei uma pequena lista do que preciso para realizar então essa mudança na minha vida. Três simples coisas, uma casa (pode ser modesta), um terreno (necessito de sentir a terra, ver verde ao acordar e de poder tocar djembé às quatro da manhã, caso me apeteça e sem incomodar ninguém), e uma fonte de rendimento que me permita subsistir, satisfazendo aquelas necessidades básicas, tipo comer, vestir, pagar água luz e internet. Como terei de começar por algum lado, decidi focar-me para já no terreno, já que nele poderei construir depois a casa e um emprego qualquer acaba-se sempre por arranjar. Então hoje fui ao banco, fiz contas, avaliei taxas e juros de empréstimo, e conclui com muita tristeza, que esta não é uma altura apropriada para grandes mudanças. Saí cabisbaixo do estabelecimento, e ao atravessar uma praça movimentada no meio da cidade alienada, por ficar no caminho do parque de estacionamento onde tinha deixado o carro, dei de caras com um homem de barba longa e olhar estranho que tudo indicava, que no lugar de onde vinha tinha uma identificação com uma fotografia pessoal sob a palavra «perigoso», carimbada a vermelho. Empunhava com as duas mãos um cartaz com uma frase escrita toscamente, na mesma cor do carimbo do instituto de saúde mental, e que dizia, «A Terra é de todos». Curioso, foi tão útil obter uma informação dessas, ainda mais agora que estava quase a pôr os meus planos de parte. Aquela frase, além de me tirar de uma ignorância profunda fez-me acreditar que o meu sonho ainda é possível e aproveitei então o regresso a casa para, com a ajuda da calculadora do telemóvel fazer mais algumas contas. Sendo que o planeta tem 149 milhões de quilómetros quadrados de terra emersa e que a população Mundial é de 7 biliões aproximadamente, foi simples concluir que existem 0,0212857142857143 de quilómetros quadrados algures, que me pertencem. Não sei muito bem quanto é em termos práticos, mas certamente caberá uma casinha e um pequeno jardim que seja, só me falta descobrir onde fica a minha porção de terra e onde me dirijo a fim de a recuperar. Desde já agradeço a quem me possa ajudar nessa procura e por favor não me venham dizer que a minha parte fica na Sibéria ou então que é o topo do Evereste. 

Um comentário:

  1. quando descobrires onde fica o teu bocadinho, avisa!! quem sabe descubro por la uma placa a indicar o meu.....

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